Sempre tive para mim que a Danielle Steel devia ser uma escritora fraquinha. Desconfio sempre de quem publica 3 livros por mês, passe-se o devido exagero. Como nunca tinha lido nada dela, e não gosto de falar sem conhecimento de causa, limitei-me a evitá-la o mais que pude. A ela e ao tal de Konsalik. O que consegui nos últimos 20 e tantos anos.
(Pessoas que gostam de Danielle Steel: por favor parem de ler, ou sigam por vossa conta e risco)
Para meu grande infortúnio, ofereceram-me um livro da senhora. Oh joy!, pensei eu, mas vá, resolvi dar uma oportunidade à rapariga. Vi logo que tinha feito mal quando a vejo na contracapa, muito loura e esticada, agarrada a um Shi-Tzu (que como toda a gente sabe é só o cão mais maricas de toda a Criação, logo a seguir ao chihuaha da Paris Hilton)
Comecei a ler esse portento da literatura que dá pelo nome de Uma vez na vida. (Título muito adequado porque é certo que não me tornam a apanhar noutra!) E das duas uma: ou a tradução é muito má, ou a mulher não escreve nada. Inclino-me para a segunda, porque nem uma má tradução consegue tão grande concentração de previsibilidade e tédio.
A heroína da história consegue a proeza de ser atropelada na véspera de Natal, que por acaso é o aniversário do incêndio que lhe matou o marido e a filha bebé, acidente a que ela sobrevive milagrosamente, ela e o filho de que ainda não sabe, pois foi gerado nessa mesma noite (lá está, menos brincadeira e talvez não tivessem deixado a lareira sem supervisão...), mas que, pobre, com tanta comoção, acaba por nascer surdo, e tem de ir para uma escola especial, num lugarejo perdido, onde a nossa heroína (que por acaso se torna numa escritora de sucesso) acaba por encontrar um simpático cidadão por quem, evidentemente, se apaixona. A coisa corre bem até ao dia em que cai uma árvore em cima do pobre homem (o facto de ser madeireiro não ajudou muito...) e lá se vai esse também. Portanto, Heroína 2 - Maridos 0. Muitos lhe correm atrás das saias (porque, claro, a moça é muito bonita, bla bla bla) nomeadamente o novo professor do filho. Que conveniente a velha directora ser substituída por um jovem e charmoso professor, não? Mas, para azar dele, ela conhece um actor de cinema famosíssimo, e muito giro (são todos muito giros neste livro), e vive com ele meses de louca paixão até que descobre um sutiã três números acima (oops) no quarto dela e o bota fora, e volta cabisbaixa para descobrir que o professor também já se amanhou com uma tal de Harriet. Coitada, vai com a cabeça cheia destes pensamentos deprimentes e esquece-se de olhar para o lado ao atravessar. Leva com um carro em cima, traumatismo grave, lacerações, blablabla, enfim, está mais para lá que para cá, isto durante não sei quantos dias, entre a vida e a morte, até que o professor a descobre no hospital. Por milagre, volta do coma no mesmo instante e oh! que emoção, ele pede-a em casamento ali mesmo, na cama de hospital. The end.
E em boa hora, não fosse também a Al Qaeda bombardear a igreja no dia do casamento e a rapariga ficar viuva pela 3ª vez e grávida do cão!
Se alguém me perguntar um dia ‘quão pindérico um livro pode ser?’ eu responderei à Cristiano Ronaldo: perguntem à Steel!